sábado, 27 de setembro de 2008

Diferente

Hoje acordei me sentindo estranho, acho que sentindo uma coisa a menos... Sem ela me revirei diferente na cama, olhando para as paredes de cores e texturas diferentes de sempre. Levantei meu corpo diferente e caminhei em círculos estranhos pelo quarto estranho e pela sensação estranha. 

Pela janela, a claridade diferente de sempre me espanta os olhos admirados. Pela janela, a paisagem diferente de sempre, com seus mesmos elementos de todas as manhãs diferentes se mostram com cuidado, como sempre. E hoje, diferente.

Pela porta, os muitos caminhos diferentes de sempre vão perdendo suas infinitas possibilidades e se concretizando em vias únicas diferentes, como sempre. E hoje, diferente.

O gosto da pasta de dentes. O frio das roupas penduradas nos cabides. O barulho do abrir da porta convidando-me para sair. Tudo de sempre. Tudo diferente.

Porque fui dormir diferente ontem, hoje acordei diferente. Acordei me sentindo como a muito tempo não me sentia, acho que com algo a menos. Fui dormir diferente ontem porque brinquei com palavras, fiz poemas e enderecei.

Dormi diferente porque voltaram, voltaram rasgados. Dormi diferente porque juntando seus pedaços procurei pelo o que hoje já não encontro: o algo perdido. Sem isso acordei estranho. 

Hoje, acho... Acho que estou me sentindo... BEM... 

E o algo continua perdido: a vontade de juntá-los.

sábado, 20 de setembro de 2008

Música nova, Música velha

E te conhecendo viajei, fiz desenhos no ar da imaginação. Passeei pela tua presença e no desenho coloquei teu perfume e tuas cores com a nitidez do presente, do próximo. E nos acordes das melodias em que me fez viajar desenhei todos os sentimentos que senti, como que pela primeira vez, com o entusiasmo de uma primeira vez, marquei e reforcei que eram vivos.

E te admirando continuei, já nada era tão novo mas tudo ainda tinha seu encanto de estreia. Ainda admirava o sentimento que causava retocar o sentimento que desenhei.

E te conheci. Quanto tempo faz? Muito talvez, não importa. Importa é que hoje, quando tocam a melodia que me faz caminhar pelos meus desenhos, caminhei apenas por lembranças. Ouvi notas decoradas com desenhos amarelados de um sentimento longínquo. O perfume já estava distante na memória.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Caos

pedaços são infinitos,
enquanto tem ordem para surpreender.

como sentimentos,
inúteis em fragmentos, 
imortais enquanto a amada viver.




O lugar podia ser descrito como uma enorme biblioteca na qual acabou de passar um furacão. Os passos entre os livros no chão procuram os corredores e o olhar procura respostas. Em um canto achou um velhinho de aspecto simpático ao lado de uma pequena estante organizada que contrastava com o restante do ambiente. Lia. "Não repare a bagunça...", disse o senhor. O olhar de dúvida do visitante fez com que mais frases surgissem: "Acontece que aqui nenhum livro fica no lugar por muito tempo. Eles se jogam das estantes".

Pensando o que faria os livros fazerem isso, tentou verificar sobre o que se tratavam. Pegou um do chão e leu na capa "Tarde e Noite". Sentiu um peso nas mãos e um estranho frio percorreu-lhe a espinha: lembranças invadiram sua mente e o barulho maciço do livro no chão acordou-o de uma vida. 

Acordou-o do cochilo enquanto escrevia seu diário.

Fechou o caderno e colocou-o sobre o criado mudo, entre a cama e a escrivaninha. Deitou-se na cama para colocar os pensamentos em ordem. Tinha sido um dia tão agitado, um dia inteiro que prometia tanto ser lindo. E que não foi. Um encontro, verdades ditas, pratos limpos. Não, definitivamente não foi um dia lindo.

E aquela noite não era normal. Parecia que tinha entranhas da tarde, resquícios do dia. Assuntos mal terminados pairando no ar como vultos fantasmagóricos. O velhinho em pé ao lado da porta disse: "Esse vai virar um clássico. Uma história tão bonita... Tão bom que por pouco não tem motivos pra cair."

E acordou assustando, forçando o despertar, reclamando realidade e sem chão. Sentindo o chão em suas costas e o diário em suas mãos.