domingo, 3 de agosto de 2008

Fim de um mundo

Espaço, tempo, identidade. Quilómetros, horas, idéias. Estradas e ponteiros impessoais demais, pensamentos pessoais demais. Paredes e esperas indiferentes, vontades diferentes.

Pra resumir, longe. Realmente longe. Em todos os sentidos e dimensões. Era assim no mundo real. Em todos os mundos, na realidade. Exceto em um que teimava em existir: uma abstração absurda na cabeça dele, do lado de cá do universo. Como matéria sobrevivia em uma pequena coleção de fotos dela no celular. Como ideologia, um conjunto de pensamentos desconexos que a idealizavam de longe. Teima em existir?

Algo que existe é que é perceptível pelo senso comum. Que possui ligações com o que chamamos de realidade. Outras pessoas ligadas à realidade poderiam ligar-se à algo que existe, formando uma rede. Quem pode ligar-se à abstração do nosso personagem além dele mesmo? Mesmo que mostre as fotos ao seus amigos e dite as regras se sua ideologia, é inteligível. Distante. Seus amigos não conhecem o mundo encantado por trás de suas palavras perdidas.

Chamamos uma pessoa que se liga à uma realidade inexistente e se desliga da existente de louca. Ela perde a capacidade de ligar-se com os elementos da realidade porque perde tempo ligando-se aos elementos da abstração. É o cara que não vê que vai ser atropelado por um caminhão porque está admirado com o elefante corderosa que voa acima dele.

Como a abstração tem um expectador que querendo ou não é real, podemos considerar que pelo menos pra ele é real. Podemos então considerar que existem diversos níveis de realidades, alguns comuns, alguns excêntricos.

Um louco é então quem cria a sua própria realidade excêntrica e se insere nela, ignorando as realidades alheias.

Pessoas ditas loucamente apaixonadas costumam ignorar o mundo exterior em detrimento de uma realidade interior que envolve a pessoa amada.

O amiguinho da história é louco? Sim. Porque esteve loucamente apaixonado. E porque tornou-se próximo à algo que nunca foi, num mundo corderosa que voava acima dele. E o caminhão o atropelou.

Agora está acordando no mundo real. Com vagas lembranças corderosa e fotos num celular.

3 comentários:

Anônimo disse...

Perfeito! Como definir tal sentimento platônico?
Ah....aquela que não devemos mencionar, apenas ela não sabe o que todos sabemos...

Anônimo disse...

e que todos vamos sofrer com isso mais de uma vez, isso é fato!
às vezes levar bordoadas é o que nos faz sentir vivos né... :)
beijo!

Anônimo disse...

Creio que louco é o egoísta que mantém sua própria realidade. E realidade é a loucura comum.
Talvez fosse necessário, ou na melhor das hipóteses, interessante, que o amiguinho da história, como bom romântico, não perdesse tempo e já esboçasse no cantinho da página corderosa sua nova realidade subjetiva. Afinal, seria tolice desistir de um ideal, mesmo que soe tão pessoal.
Parabéns pelas palavras.