segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Caos

pedaços são infinitos,
enquanto tem ordem para surpreender.

como sentimentos,
inúteis em fragmentos, 
imortais enquanto a amada viver.




O lugar podia ser descrito como uma enorme biblioteca na qual acabou de passar um furacão. Os passos entre os livros no chão procuram os corredores e o olhar procura respostas. Em um canto achou um velhinho de aspecto simpático ao lado de uma pequena estante organizada que contrastava com o restante do ambiente. Lia. "Não repare a bagunça...", disse o senhor. O olhar de dúvida do visitante fez com que mais frases surgissem: "Acontece que aqui nenhum livro fica no lugar por muito tempo. Eles se jogam das estantes".

Pensando o que faria os livros fazerem isso, tentou verificar sobre o que se tratavam. Pegou um do chão e leu na capa "Tarde e Noite". Sentiu um peso nas mãos e um estranho frio percorreu-lhe a espinha: lembranças invadiram sua mente e o barulho maciço do livro no chão acordou-o de uma vida. 

Acordou-o do cochilo enquanto escrevia seu diário.

Fechou o caderno e colocou-o sobre o criado mudo, entre a cama e a escrivaninha. Deitou-se na cama para colocar os pensamentos em ordem. Tinha sido um dia tão agitado, um dia inteiro que prometia tanto ser lindo. E que não foi. Um encontro, verdades ditas, pratos limpos. Não, definitivamente não foi um dia lindo.

E aquela noite não era normal. Parecia que tinha entranhas da tarde, resquícios do dia. Assuntos mal terminados pairando no ar como vultos fantasmagóricos. O velhinho em pé ao lado da porta disse: "Esse vai virar um clássico. Uma história tão bonita... Tão bom que por pouco não tem motivos pra cair."

E acordou assustando, forçando o despertar, reclamando realidade e sem chão. Sentindo o chão em suas costas e o diário em suas mãos.

Um comentário:

Anônimo disse...

Rodrigo! Definitivamente adoro os seus textos! E realmente vc está desesperado! rs...abraço!!