segunda-feira, 30 de junho de 2008

AMAR, experiências e verbos intransitivos

Já no meio do livro, você ainda tem certeza que este foi a escolha perfceita entre tantas outras ruins que poderia ser feito. Assunto perfeito, abordado perfeitamente da forma que você admira.

Você passa pela sala tentando imaginar como o autor daqueles acordes conhecia tão bem seu gosto musical, ao ponto compor a melodia exatamente como deveria ser composta. Para você. Perfeitamente.

O quadro no final da sala usa suas cores favoritas. A mistura dos tons é exatamente a que chama sua atenção. O tema do quadro, "É claro! Como eu não havia pensado nisso antes?", é perfeito. Como se fosse meu.

Recorte as citações das quais mais goste e coma. Sinta a vibração das melhores ondas sonoras na superfície de um copo com água e beba. Vista a tela da imagem e faça dela uma roupa sua. Aproveite se puder.

E você não pode. Não no seu caso. A casa não é sua. Você não tem todo esse arcabouço de sentimentos que o completa.

Ensaie seus passos para fora! Esqueça que tudo isso existiu! A porta aberta que o fez conheçer essas emoções é a que o convida a sair!

E os contos? as músicas? as imagens? toda essa identificação? Besteira! Não é seu! Não é seu! A Sala não o quer lá! Acha que houve reciprocidade?

Acha que há reciprocidade?? Todas aquelas letras juntas pelo mesmo sentimento que o seu não precisam de você; Os conjuntos de instrumentos transmitindo emoções tão belas sobreviverão à eternidade perfeitamente você existindo ou não; os conceitos das imagens irão tocar outras pessoas.

E com andando devagar, já ao longe você olha pra trás e lê nos lábios da casa: "Saia daqui. Só você se completou."




BlogBlogs.Com.Br

domingo, 29 de junho de 2008

hipomania

Sentado em um banco na universidade, tinha o olhar entre a paz da praça e o quase caos da rua: tinha o olhar em lugar nenhum. E o que ele queria era saber o que queria. Isso seria o suficiente se existisse. E existia suficientemente para ser objeto de sua busca hoje.

O fato é que se sentia como se estivesse indo dormir quando acabou de ter uma grande idéia. Como se estivesse fazendo nada do que poderia ser muito. E queria fazer alguma coisa. Sentia-se capaz de fazer tudo. Desde que tivesse a capacidade de descobrir o que precisava ser feito.

E o que precisava ser feito? Ele não sabia. Olhou para o lado e viu o ponto de ônibus. O dele sempre demorava a passar. Mas pegá-lo significava ir para a casa e excluir uma pequena infinidade de possibilidades a serem realizadas. Por que ele podia realizar muito. Só não sabia o que precisava ser realizado.

Decidiu ir para o centro. Lá havia muitas coisas a espera de serem feitas. Pegou um dos ônibus que iam naquela direção e partiu pra lá. Sentado no meio das fileiras, talvez querendo ser incomodado para ter algo sobre o que pensar, foi todo o caminho sem ser incomodado. Balançava as pernas e estalava todos os dedos da mão e sentia falta de sua música e olhava em volta. Tremia um pouco e não era o suficiente para descarregar toda aquela carga de stress.

Quando chegou no ponto, olhou em volta e, com sua visão além do alcançe, lembrou do shopping próximo. Foi pra lá sem pensar.

Pouca gente. Voltas e voltas. Do primeiro ao último andar, sucessivamente. Olhava tudo. Pouco o agradava. Tinha dores de cabeça. Sentado nas mesinhas da praça de alimentação, tinha o olhar nos letreiros das lojas. Não decidiu comer, mas foi comer.

Os lanches agora eram alvos de ataques.

O primeiro. Estava até com um pouco de fome, mas não era por isso que comia. Este foi alvo da ansiedade. Mordidas ferozes e rápidas eram a forma que seu corpo encontrou para chicotear a ansiedade no lanche.

O segundo. Agora já parava para pensar. Mordia e pensava no quanto poderia estar fazendo e estava ali comendo. Usava a raiva. Não era capaz de fazer algo melhor. Tanta coisa que precisava ser feita... Tantos relacionamentos mal resolvidos, matérias mal estudadas e vontades... Muita raiva.

O terceiro. Começava a desanimar. Perdeu muito de todo aquele potencial. Agora, da pequena infinidade de possibilidades, ele tornou-se apenas um estudante entediado afogando mágoas em sanduíches. Eram as mordidas do desânimo que controlavam seu pequeno ritual.

O quarto. Agora tinha certeza de que era um miserável. Ele é um miserável.

"E a vida oscila, como um pêndulo, entre a dor e o tédio."
Arthur Schopenhauer

domingo, 22 de junho de 2008

Memória

Dos passos adestrados em direção ao edifício

Aos passos perdidos na multidão

Passa pelo caminho de sempre para alcançar o portão

Procurando uma trilha entre as pessoas e rumo ao encontro

Esperado encontro, vê o porteiro conhecido.

Encontro cheio de dúvidas, como esperar

Atravessar o corredor até o elevador. Não é tão estranho

Quanto a possível reação dela,

O som do elevador chegando é familiar

Como a tensão do momento decisivo.


A diferença é o estado de espírito.


E abre a porta de casa.

E a encontra.

Reconhece os caminhos da sala

E perde-se ao dizer tudo o que julga importante

Senta-se no sofá para não cair

E ouve tudo o que ela julga importante.


Perdendo-se num turbilhão de memórias.


Mostrando a marca doída do “não correspondido”,

Agora sabe onde está seu corpo.

Vendo ela lhe dar as costas,

Sabe onde está sua mente:

Ela foi embora


Junto com seu coração.

sábado, 21 de junho de 2008

Consiência

-28 metros

Pelo jeito já faz muito tempo que o sinal está verde. Todos os carros que esperavam antes da faixa de pedesdres já estavam muito além dela. Aquele sim estava quase sincronizado, ao contrário da maioria dos semáforos da cidade. Ele estava quase vendo o sinal tornar-se amarelo. Nem estava assim tão rápido para aquela rua. E ele viu

-14 metros

o sinal tornar-se amarelo. Perder todo o embalo, reduzir a marcha, perder tempo, tirar o pé do acelerador, perder paciência, pé no freio... Puta merda, viu! E o carro rápido... Pelo jeito a freiada vai ter que ser brusca... Mas de

-2 metros

qualquer forma não há mais tempo. O sinal acabou de fechar. Esse cruzamento nem é tão movimentado assim. Ia dar muito mais trabalho parar. "Vou dar uma buzinadinha e fica tudo

8 metros

E a buzina se mistura com o som da outra buzina, o som dos pneus arrastando, o silêncio da apreensão e o estrondo esperado da seqüência. Auto-punição

8 metros

pós-trauma. De um erro besta. Do tipo que todo mundo acha que sabe que estava errado. Ele acha que estava errado. Mas ao pesar na balançinha mental

-2 metros

os prós e contras da decisão ele optou por fazer. Optou pelo o que achou melhor na comparação simplista do vou/nãovou feita no momento da escolha. Optou pelo o que lhe era mais cômodo. Pelo o que considerou

8 metros

certo. Mas agora diz que estava errado. E agora livre da adrenalina do momento afirma

9 metros

"Ultrapassar sinal vermelho? Não! Eu em sã consiência nunca faria isso! Eu sei que eu estava errado mas ..." E defende-se. E coloca a culpa no outro. E coloca a culpa na impulsividade da situação. É sua forma de afirmar que ele nunca faria isso. Sua forma de afirmar que não é um transgressor de regras. Ele nunca faria isso. E diz que sabe estar errado para defender-se mas

8 metros

optou por fazê-lo.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Cacos

Acredite. Abrir os olhos é mais traumatizante.
Amar quem não merece é uma coisa.
Descobrir que não merece é outra.

Como faz falta a aura que desenhei em volta dela… Que a protegia da minha razão impessoal, esclarecedora e inconseqüente. Como eu era antes dela. E como ela me preveniu de ser. Como eu queria continuar sendo. Pra continuar amando.

A infeliz razão me fez ver o que não iria nunca acontecer, mas que o amor mostrava. A triste verdade que se escondia nas mentiras que amava tanto. Amava cada mentira daquelas. Que construí com tanto amor.

Eu a amava e ela morreu. Cada mentira. E sinto falta. Mas confio na razão. Ruim é amar mentiras. Elas somem. E confio no tempo. Que cobrirá as mentiras com o pó do desuso e meu amor com mais razão. E amarei outra coisa.

Se é que a verdade é amável.

Fagia

Como na maioria, naquele dia foi almoçar no restaurante do chinês, que misturava comida oriental e brasileira, perto de sua casa. Entrou na fila, pegou seu prato e começou a montar refeição de sempre.

Colocou varias variedades de salada no primeiro estrato de comida e cobriu com azeite e sal. Foi em direção ao arroz e colocou aquele arroz temperado típico da comida chinesa que ele não sabia o nome em cima da salada espalhada pelo prato. Em cima disso colocou o feijão preto. Ainda em cima colocou o yakissoba.

O dono do restaurante, vendo a estrutura escolhida pelo cliente interviu: "Assim misturando tudo perde o gosto das coisas..."

Sem graça, nosso amigo replicou "É o costume..." e sorriu meio sem graça depois de olhar a bagunça.

Sentou-se sozinho na mesa e foi iniciou o ritual do almoço. Misturou a primeira porção de comida e se empenhou no consumo da montanha de comida.

E na primeira garfada que levou em direção à boca, ao mastigar sentiu a explosão macia do pepino com azeite... Ele não lembrava o gosto de pepino tinha aquele som. Sorriu para si mesmo pela descoberta. Era nostalgico.

A segunda garfada trazia mais uma complexa combinação de gostos, sons e cores. Ela também o impressionou sinestesicamente quando apertou com os dentes a textura firme do macarrão do yakissoba. Estava realmente no ponto. "Aquelas cozinheiras sabem preparar uma boa comida", pensou.

E os estimulos vinham de todos os tipos para seus sentidos. E a cada vez que levava o garfo à boca escolhia um para roubar sua atenção. Nunca tinha pensado o quanto almoçar exigia empenho para compreender o que era ingerido.

A festa de seus sentidos durou até o último grão de arroz.

Sempre se empanturrava, e só agora podia dizer que estava satisfeito.

Ao sair acenou agradecido para o Chinês. A mensagem foi entendida.

Bem, e você?

Médico: O que o traz aqui?
Paciente: Ando com um zumbido no ouvido nos últimos dias
Médico: E o resto da saúde?
Paciente: Ahh, eu tenho uma saúde de ferro!
Médico: Anda tendo dor de cabeça?
Paciente: Quase todos os dias …
Médico: Teve tontura?
Paciente: Sempre que eu sinto a dor de cabeça ….
Médico: E a garganta?
Paciente: Parece que tem uma colher de sal nela …
Médico: Intestino?
Paciente: Não funciona a muito tempo …
Médico: Anda dormindo bem?
Paciente: Não.
Médico: Você tá estressado, né?
Paciente: Bastante … =\