sábado, 21 de junho de 2008

Consiência

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Pelo jeito já faz muito tempo que o sinal está verde. Todos os carros que esperavam antes da faixa de pedesdres já estavam muito além dela. Aquele sim estava quase sincronizado, ao contrário da maioria dos semáforos da cidade. Ele estava quase vendo o sinal tornar-se amarelo. Nem estava assim tão rápido para aquela rua. E ele viu

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o sinal tornar-se amarelo. Perder todo o embalo, reduzir a marcha, perder tempo, tirar o pé do acelerador, perder paciência, pé no freio... Puta merda, viu! E o carro rápido... Pelo jeito a freiada vai ter que ser brusca... Mas de

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qualquer forma não há mais tempo. O sinal acabou de fechar. Esse cruzamento nem é tão movimentado assim. Ia dar muito mais trabalho parar. "Vou dar uma buzinadinha e fica tudo

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E a buzina se mistura com o som da outra buzina, o som dos pneus arrastando, o silêncio da apreensão e o estrondo esperado da seqüência. Auto-punição

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pós-trauma. De um erro besta. Do tipo que todo mundo acha que sabe que estava errado. Ele acha que estava errado. Mas ao pesar na balançinha mental

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os prós e contras da decisão ele optou por fazer. Optou pelo o que achou melhor na comparação simplista do vou/nãovou feita no momento da escolha. Optou pelo o que lhe era mais cômodo. Pelo o que considerou

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certo. Mas agora diz que estava errado. E agora livre da adrenalina do momento afirma

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"Ultrapassar sinal vermelho? Não! Eu em sã consiência nunca faria isso! Eu sei que eu estava errado mas ..." E defende-se. E coloca a culpa no outro. E coloca a culpa na impulsividade da situação. É sua forma de afirmar que ele nunca faria isso. Sua forma de afirmar que não é um transgressor de regras. Ele nunca faria isso. E diz que sabe estar errado para defender-se mas

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optou por fazê-lo.

4 comentários:

Unknown disse...

Sócrates afirmava que um conhecimento claro da verdade era essencial a uma conduta correta. A ação, afirmou, equivale ao conhecimento.

Para ele, o verdadeiro conhecimento do que é certo leva ao agir correto. Por isso todo o erro vem de uma ignorância, vem de não saber como agir melhor ou considerar as coisas por corretas utilizando métodos superficiais.

É o que tento defender no texto. Se o personagem soubesse claramente que as conseqüências de se furar o sinal podem ser maiores que os benefícios de alimentar a preguiça, ele não teria errado.

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Haha Jicardo Jicardo, ficou muito legal o seu texto, apesar de eu achar ainda que o motorista sabia exatamente que estava errado e mesmo assim o fez, portanto, quando as pessoas cometem erros, elas geralmente sabem que o que estão fazendo está errado...mas como diz a Elis, cada caso possui duas maneiras de ser visto....e esse título? Consiência? Espero que tenha sido proposital...haha, crueldade...mas seu texto ficou muito bom a meu ver, vou até escrever outro rsrs até!

Unknown disse...

Jefferson,

O que eu tento mostrar é que ele diz que sabe que está errado mas considerou certo e fez.

É por isso que as pessoas cometem erros, por considerar as coisas ditas erradas como corretas.

E depois tentam aliviar a culpa falando que sabem que está errado.