domingo, 29 de junho de 2008

hipomania

Sentado em um banco na universidade, tinha o olhar entre a paz da praça e o quase caos da rua: tinha o olhar em lugar nenhum. E o que ele queria era saber o que queria. Isso seria o suficiente se existisse. E existia suficientemente para ser objeto de sua busca hoje.

O fato é que se sentia como se estivesse indo dormir quando acabou de ter uma grande idéia. Como se estivesse fazendo nada do que poderia ser muito. E queria fazer alguma coisa. Sentia-se capaz de fazer tudo. Desde que tivesse a capacidade de descobrir o que precisava ser feito.

E o que precisava ser feito? Ele não sabia. Olhou para o lado e viu o ponto de ônibus. O dele sempre demorava a passar. Mas pegá-lo significava ir para a casa e excluir uma pequena infinidade de possibilidades a serem realizadas. Por que ele podia realizar muito. Só não sabia o que precisava ser realizado.

Decidiu ir para o centro. Lá havia muitas coisas a espera de serem feitas. Pegou um dos ônibus que iam naquela direção e partiu pra lá. Sentado no meio das fileiras, talvez querendo ser incomodado para ter algo sobre o que pensar, foi todo o caminho sem ser incomodado. Balançava as pernas e estalava todos os dedos da mão e sentia falta de sua música e olhava em volta. Tremia um pouco e não era o suficiente para descarregar toda aquela carga de stress.

Quando chegou no ponto, olhou em volta e, com sua visão além do alcançe, lembrou do shopping próximo. Foi pra lá sem pensar.

Pouca gente. Voltas e voltas. Do primeiro ao último andar, sucessivamente. Olhava tudo. Pouco o agradava. Tinha dores de cabeça. Sentado nas mesinhas da praça de alimentação, tinha o olhar nos letreiros das lojas. Não decidiu comer, mas foi comer.

Os lanches agora eram alvos de ataques.

O primeiro. Estava até com um pouco de fome, mas não era por isso que comia. Este foi alvo da ansiedade. Mordidas ferozes e rápidas eram a forma que seu corpo encontrou para chicotear a ansiedade no lanche.

O segundo. Agora já parava para pensar. Mordia e pensava no quanto poderia estar fazendo e estava ali comendo. Usava a raiva. Não era capaz de fazer algo melhor. Tanta coisa que precisava ser feita... Tantos relacionamentos mal resolvidos, matérias mal estudadas e vontades... Muita raiva.

O terceiro. Começava a desanimar. Perdeu muito de todo aquele potencial. Agora, da pequena infinidade de possibilidades, ele tornou-se apenas um estudante entediado afogando mágoas em sanduíches. Eram as mordidas do desânimo que controlavam seu pequeno ritual.

O quarto. Agora tinha certeza de que era um miserável. Ele é um miserável.

"E a vida oscila, como um pêndulo, entre a dor e o tédio."
Arthur Schopenhauer

Um comentário:

Anônimo disse...

Vamos falar de criatividade? Piá.....você é meu orgulho....hahhaha Muito bom este último texto, e realmente não sei como surgiu o último que eu postei, apenas surgiu....sei lá, sou meio louco haha...até mais!